Águas do Açude
Reza a tradição popular que, em noites de lua cheia, quem observa atentamente as margens do Açude Araras pode escutar vozes suaves, quase sussurradas, ecoando entre as águas. Alguns dizem ser lamentos antigos, outros acreditam serem cantigas esquecidas dos primeiros moradores. Essa lenda, embora poética, abre espaço para uma história ainda mais grandiosa: a do Açude Araras, um dos maiores e mais significativos reservatórios hídricos do Ceará e do Nordeste brasileiro.
Inaugurado oficialmente em 1958, o Açude Araras foi construído às margens do rio Acaraú, como uma medida estratégica para combater os efeitos devastadores das secas históricas que assolam a região. A obra foi fruto de um esforço nacional de modernização da infraestrutura hídrica, e sua construção movimentou trabalhadores de diversos estados, engenheiros, operários e famílias inteiras que acompanharam o surgimento desse colosso de concreto e água.
Com uma capacidade de armazenamento que supera um bilhão de metros cúbicos, o Açude Araras alterou profundamente a dinâmica de vida de várias cidades da região, incluindo Varjota, que viu seu desenvolvimento se acelerar com a proximidade do açude. Tornou-se fonte de irrigação para a agricultura, fornecimento de água para consumo humano e animal, além de espaço para pesca, lazer e turismo.
A própria fundação de Varjota está ligada à construção do açude. Antes dele, a área era composta por pequenas comunidades rurais dispersas. Com a chegada dos trabalhadores e o fluxo migratório ocasionado pela obra, surgiu um núcleo urbano que viria a se transformar no município que conhecemos hoje. Varjota, portanto, nasce da água — ou melhor, da necessidade de domar a seca com a força de um reservatório grandioso.
Com o tempo, o Açude Araras também passou a fazer parte do imaginário afetivo da população. Crianças aprenderam a nadar em suas margens, pescadores criaram laços profundos com suas águas e famílias inteiras construíram memórias ao redor das barragens e mirantes. Durante períodos de cheia, o vertedouro se transforma em espetáculo natural que atrai moradores e visitantes. Já nas estiagens, o açude se torna símbolo da resiliência de um povo que aprendeu a conviver com a seca sem perder a esperança.
Além de sua importância prática, o Açude Araras se transformou em um símbolo de união, resistência e vida para o povo varjotense. Hoje, continua a desempenhar papel vital para a economia local e permanece como ponto de encontro, inspiração artística e memória viva de um tempo em que o homem ousou dialogar com a natureza em busca de sobrevivência.
Assim, o Açude Araras não é apenas um reservatório de água. É um reservatório de histórias, sonhos e conquistas. É testemunha de um passado desafiador e promessa de um futuro fértil, onde as águas continuam a nutrir a terra e os corações de quem ali vive.